sábado, 10 de dezembro de 2011

Cadeira de Balanço

Cadeira de balanço



Pé ante pé,sorrateiramente espio se a tia esta dormido,ta num sono que parece urso hibernando,então me sento em sua cadeira de balanço,e começo a me balançar,dali uns minutos minhas pálpebras vão se fechando,e minha mente recua a uns anos atrás,talvez seja por ser quase Natal ou estar envelhecendo.

Lembrei que papai estava doente e não tínhamos um centavo em casa,minhas irmãs eram pequenas e eu lia nos olhos a expectativa de ganhar presente do papai Noel.
O que fazer?
Fui cortar grama para os ricos,naquela época ainda existia os ricos,hoje existe os que querem ser.

O sol de dezembro a pino,o suor escorrendo,vovô e eu cortando grama,trabalhei a semana toda,no final comprei uma galinha pra ceia e para as pequenas duas bonequinhas de enfeitar bolo deveriam ter uns dez centímetros,embrulhei bem e após a ceia,fomos dormir,ouvindo o riso dos vizinhos,os foguetes,sentia no ar o cheiro de churrasco,esperei as meninas dormirem e coloquei os embrulhinhos no travesseiro delas porque não tínhamos arvore.

Dormi com o clarão dos foguetes,não tinha tempo pra chorar,no outro dia tinha que levar as meninas no estádio.
Quando acordei as gurias estavam com suas bonecas numa felicidade genuína,sem fingimento,planejando fazer roupinhas,deram nomes,e era tão pouco,o presente tão singelo que eu chorei,chorei porque não pude fazer nada do que eu sonhava,queria dar bonecas grandes,que choravam e vinha com bico,mas não pude.

Mozarina era mulher enorme,gorda,com vozeirão,empurrava abria espaço a ai de quem furasse sua vez,cheia de filhos,nos levou até o estádio e ficamos o dia todos numa fila,assando ao sol de dezembro,quando chegou nossa vez,ganhamos um copo de ksuco,uma boneca de plástico e para os meninos uma bola grande colorida,de plástico seco,não sei como ninguém morreu sob o sol.



Voltamos pra casa esbaforidos!
E assim terminou nosso Natal!
Terminou também minha ingenuidade .

Anoiteceu, o sino gemeu
A gente ficou feliz, a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar.

Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
Vem assim, felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel

Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então, felicidade
(
É brinquedo que não tem.


Conclusão,daqui por diante não me sento mais na cadeira de balanço de minha tia ,ela dói na alma!









P.S:Dedico esta crônica ao meu paizinho,daria tudo pra ti voltar mas Deus te chamou e tu voltou pra casa,te amo e sempre amarei