quarta-feira, 16 de junho de 2010

Meu amigo Magrão

o relógio me acorda num barulho estridente,afasto o cobertor.Banho,café,com a mochila nas costas sigo pro frigorífico.Absorto,vejo as pessoas passarem por mim com cara de sono,semblantes amarrados,como se não vissem as maravilhas que o dia nos reserva,o sol,os amigos.
No portão cumprimento o vigia e ao entrar no pátio lá está ele em frente ao almoxerifado, jaleco azul,cabelos cor de prata,um free nos dedos.
_Fátima,diz um número!
_Três!
_È teu,pode levar,chegou a trava!
 Eu sorrio,abano a cabeça e desço pro meu setor,o dia começou bem.
 O nome é Jorge,mas todos o conhecem por magrão,talvez numa época ele tenha sido magro ele diz que sim mas eu tenho dúvidas.O melhor eletrecista que já conheci,eu trabalho com máquinas e pra elas funcionarem eu preciso dele,então nossos serviços são interligados,pelo menos eu preciso dele,ocasionalmente ele pedia minha ajuda,geralmente prá segurar uma escada,alcançar uma chave.Quando eu preciso dele geralmente tenho que marchar com cigarro,que criatura filona,uma rapadura,um bolo pro café,mas sempre posso contar com ele,sempre,sempre rindo,brincando e assim nesta mistura de trabalho e diversão passaram-se um,dois,cinco,dez,vinte anos.Vinte anos de amizade,de muito riso,muito trabalho,aprendi muito com ele,sobre trabalho e principalmente sobre a vida.Enfrentamos chuva,frio,calor mas sempre com muita alegria.
Um dia estávamos no pátio e ele me disse que estava com uma dor no lado do corpo eu pedi que  fosse ao médico porque já tinha tido problemas algum tempo atrás,os amigos da firma também pediram mas ele não deu importância,numa tarde ele não aguentou a dor e o levaram pro hospital ,passaram-se os dias e ele nada de melhorar,eu tinha plena convicção que voltaria a ser tudo como era.
Eu estava dentro da empresa quando nosso encarregado me disse:
_O magrão morreu .
Eu não conseguia entender o que aquelas palavras queriam dizer até que a ficha caiu ,o magrão tinha falecido,não podia ser verdade,eu estava esperando ele voltar,tava cheio de coisas pra contar.Fui no velório,meu amigo estava no esquife sem vida,mas mesmo assim eu não entendia,no cemitério eu absorvi o que significava,nunca mais o veria,nunca mais trabalharíamos juntos,nunca mais.Chorei a perda de um irmão.
Nestes vinte anos nunca fui na casa dele pra uma visita,eu achava que tudo era permanente,mas nada é permanente,tudo passa,nascemos,crescemos,envelhecemos e morremos,é natural,mas ele se foi com cinquenta anos,tinha tanto pra viver e eu ingenuamente acreditava que tudo seria por muito tempo como era.
O relógio me acorda num barulho estridente,afasto o cobertor,banho,café,com a mochila nas costas sigo pro frigorífico.Absorto,vejo as pessoas passarem por mim com cara de sono,semblantes amarrados,como se não vissem as maravilhas que o dia nos reserva,o sol,os amigos.No portão cumprimento o vigia e ao entrar no pátio lá está ele em frente ao almoxerifado, jaleco azul,cabelos cor de prata,um free nos dedos,eu sorrio e ao olhar mais atentamente não tem ninguém,ninguém me espera,nenhum sorriso,abaixo a cabeça e sigo pro meu setor,mais um dia começa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentario,é muito importante para mim,me faz crescer,grande abraço.