quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Duas orações

Duas orações.




Na minha vida por duas vezes me ajoelhei e fiz duas orações,uma pedindo que meu pai morresse e outra para que meu pai vivesse,foram me negado os dois pedidos,então Deus e eu fizemos um acordo tácito,não peço nada e ele não me exige nada.

Hoje ja posso escrever sobre o que aconteceu,as feridas fecharam mas a cicatriz ficou,cicatriz feia,nunca desaparecerá.

Eramos oito filhos,oito crianças tipo escadinha,papai trabalhava em Pantano Grande,era ferreiro,quando chegava quase na hora de vir do serviço íamos espera-lo,então pegamos sua sacola azul marinho ,o beijávamos e vínhamos felizes como só as crianças sabem se-lo.Dentro da sacola tinha sua marmita e dentro dela sempre havia um restinho do almoço que deixava para nós.Não passávamos fome nem nada mas o gosto daquela comida era especial.

De noite quando estávamos deitados ele nos cobria,um beijo com gosto de Kolinos,da cama pedíamos:

-A bênção pai,a bênção mãe!

_Deus te abençoe,era a resposta.

Uma vez por mês vinha a capelinha da santinha,uma casinha de madeira com a imagem de nossa senhora do rosário,acendíamos um velinha,ajeitávamos flores e de joelhos era puxada uma reza com fé.tudo era tão simples,tão pobre e somente hoje percebo que éramos milionários.

Na hora das refeições todos na mesa,mesa cheia de alegria,de risada,,hoje nem mesa tem mais,todos cresceram,foram embora,só fiquei eu com os fantasmas que me perseguem,fantasmas de um tempo que passou,morreu e não volta mais.

_Alemão vem comer,Rosaria não vira nada na mesa tu é muito estabanada,Ruti deixa de ser molóide!!!!!!!!!!

Tudo ia tão bem até que meu pai adoeceu,anjina,pressão,teve que se encostar como dizíamos,ficar recebendo auxilio doença do INPS,oito bocas com um salário de merda,papai se sentia culpado,hoje eu sei ,mas naquele tempo não,começou a beber e quando bebia não era mais o meu pai,era ruim,xingava ,brigava,quebrava a louça,não dormíamos,então pedi a Deus que matasse meu pai.

Não fui atendido,claro,passara-se os anos,e meu pai se queixava de dor no estomago,até que foi diagnosticado câncer,no dia que soubemos fazia um sol lindo,entrei com ele no consultório,Dr Luiz Henrique olhou os exames e pude captar um sombra em seu rosto,ou foi a pausa procurando palavras,mas soubemos que era câncer sem ter dito nada,quando saímos na rua em frente a rodoviária meu pai estava calado,as pessoas passavam,a rua estava cheia,então ouvi um soluço,meu paizinho tinha parado na calçada e não percebi,voltei e  pus minhas mãos nos ombros dele e perguntei:

_O Sr que viver ou morrer?Juro que respeitaria a descisão dele.

_Quero viver!

_Então vamos lutar!

O abracei bem apertado e numa rua ensolarada atapetada de gente ele chorou,eu não podia chorar tinha um batalha pra enfrentar.

Foi operado,arrancaram setenta por cento do estomago,eu fiquei no corredor frio e branco de madrugada,esperando noticias dele,ate que a enfermeira com pena de mim,mandou entrar e vê-lo.

Foi um sucesso,mas íamos fazer quimio e radio terapia,depois de cinco anos deram como curado,que alegria!!!!!

No sexto ano o câncer voltou com toda força e tomou conta do corpo de paizinho,seu Osmarzinho.

_Plac,plac,plac,plac!

Era o único som que se ouvia no corredor do hospital,minha mente não queria estar ali,não queria ver,não queria acreditar,meu pai estava agonizando.Parei no umbral da porta,e ele estava olhando para o teto o rosto magrinho,de fraudas,soro nas veias,a cor escura,como se uma sombra pairasse sobre ,engoli o choro ,sentei ao seu lado apertei a mãozinha magrinha:

_Seu Osmarzinho!

_Hã?

_Tu sabe que eu te amo?

_Tambem te amo!

Nunca tinha dito ao meu pai que o amava,e o perdendo, a verdade me veio como um raio fulminante,eu o amava muito.

E pela segunda vez fiz uma oração,pedi a Deus que deixasse meu pai viver,pedi,implorei,implorei tanto.

Meu pai morreu,a família se reuniu novamente,meus irmãos,todos chorando a morte do nosso pai,o homem grandão de barba preta,que passava a mão no cavanhaque,que ria pra dentro.

Agora eu podia chorar mas estava sem força nem pra chorar,só um vazio sem tamanho tomava conta de mim,fiquei eu na casa azul com meus fantasmas.

_Alemão quer melancia?

_Ruti cuidado com o braço quebrado!

_Rosária toma conta da Rose!...........................

FIM

Pai afasta de mim este cálice,mas seja feita a tua e não a minha vontade!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Ao Felipe com amor


Ao Felipe com amor




Abriu os olhos lentamente,o sol já brilhava , os passaros faziam uma bagunça danada,seu olhar procurou o porta retrato no criado mudo,encontrou o que procurava e um sorriso brotou no seu rosto,reação que aquela foto sempre provocava,ali estava Felipe,seu filho ,rindo ,lindo menino,nestas horas ela ficava pensando se seria merecedora de tanta felicidade,agora ela compreendia o significado da palavra mãe.A dez anos atras,quando descobriu que estava gravida sentiu um medo enorme,medo de não saber ser mãe,não existia nenhum livro que ensinasse isso,mas logo após o nascimento de Lipe,foi instantaneo,ela sabia o que fazer e soube que tinha nascido para ser mãe,como podia amar tanto?Beijava,acariciava,aquele rostinho e recebia tanta felicidade que tinha certeza de ser a pessoa mais feliz do mundo.

O tempo foi passando e esta união ,mãe e filho,cada vez mais forte,o menino entrou na escola e ela ia leva-lo de mãos dadas e buscava-o ao final do dia,ajudava nas tarefas escolares,e adorava isto ,passar seu conhecimento,Natal,Pascoa,dia das crianças,férias,o tempo andava,tudo perfeito.

Neste dia tinha excursão da turma por isso acordara mais cedo,preparou tudo,arrumou a roupa de felipe,e foi acorda-lo,tarefa custosa ,ele se recusava a levantar,então focou o olhar no rosto da mãe,estendeu os braços,beijou seu o rosto,e disse que a amava.

Ao final do dia ela estava no trevo de acesso esperando o onibus pois ficava mais proximo de sua casa,do outro lado avistou o veiculo chegando,ele freou,abriu a porta,a professora desceu,então ela viu seu filho querido,Lipe tambem a viu e gritou de contente, correndo atravessou sem olhar pros lados,ela ficou com o grito de não preso na garganta,horrorizada acompanhou como em camera lenta o carro em alta velocidade bater no menino,viu o voo do corpo,o impacto da queda,da boca saia um filete de sangue,ao pega-lo no colo sabia que estava morto,e ali ficou abraçada ao seu filho,os carros passavam,o sol brilhava,morto.

Infelizmente esta historia realmente aconteceu,se por um momento no passado eu pudesse saber o que aconteceu,eu diria a ela ,isto evitaria de ver seus olhos,como eu vi,um frio que vinha da alma,tal qual folhas de platanos mortas,secas.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O mar,o rio e eu

O mar,o rio e eu




_BUM-BUM,BUM-BUM,BUM-BUM

O tambor já estava ressoando desde cedo,era o pessoal calibrando para a excursão,fui convidado pela Rosa,minha querida Rosa , coração de ouro,alma linda ,que nome perfeito lhe foi dado,embeleza,perfuma nossa vida.Pois ela me convidou pra ir nesta excursão com destino a Torres,já era um burro véio e não conhecia o mar,o tão falado mar,eu tava meio nervoso mas ia com amigos, estava seguro.

E lá fomos nós,foram quase cinco horas de viagem,o samba comendo a fuséu,samba dos surdos e samba na garrafa,até que tava boa a aventura,chegamos numa praia muito bem organizada com guarda-sóis na areia,tudo bem chic,sentamos e fizemos os pedidos,até que um guarda veio nos pedir que saíssimos dali pois não se admitia excursões,ou seja não era pra nós,era pra burgues,mas tudo bem fomos mais adiante e paramos numa praia nem tão organizada,era a dos farofeiros,achamos nosso lugar!

_BUM-BUM,BUM-BUM,BUM-BUM!!!!

Minha Rosa,decidiu entrar n´agua,foi colocar seu maiô que até então era segredo,quando ela voltou estava vestindo um troço azul com bolinhas pretas e um babado na cintura,era moda,só que em 1900!!!!!!

A Magda pediu que passase bronzeador nela,se deitou de bunda pro sol, era descomunal sua bunda,pra passar bronzeador seria preciso uns dez litros mais ou menos.

A Fatima já tinha caido a franja,interessante isso,a franja dela é o termômetro de quando está bêbada,se esta pra cima ta sã,se cai ta prontinha,nesta hora tava mais pra baixo que barriga de cobra,prontinha,dava risada,daqui a pouco chorava um pouco e ria novamente,a Neca chamando o José Francisco e o chico nem aí,com os braços esticados sambava na areia,tal qual um galo despescoçado.

Os maridos ,namorados olhando disfarçadamente as bundas que passavam e as feras de olho neles,o beliscão tava rolando frouxo.

Então estava na hora do encontro,o mar e eu.

Olhei aquela imensidão azul,a brisa com cheiro saldado,areia branquinha,horizonte sem fim,senti a agua molhando meus pés,a areia em contato com minha pele,fechei os olhos,respirei fundo e iniciei nosso dialogo:

_Sabe mar,tu é muito bonito,é uma beleza que eu não imaginava que existia,tudo tão imensuravel,tanta cor,tanto cheiro,tanta vida,mas eu não gostei de ti,la em minha cidade tem um rio ,suas aguas são pardas,a areia não é branquinha,mas eu o amo,descobri agora que eu nasci pra rio e não pra mar,la eu tenho arvores nas suas margens,eu me sento sob sua proteção e leio um livro,as pessoas passam e me cumprimentam,la eu olho pro outro lado e se quiser pego um caíque e atravesso,la eu pesco pintado nos meses de setembro,la o garçon sabe meu nome e nem preciso pedir porque sabe meus gostos,tu é violento este barulho não me traz alegria,este sol torra meu corpo,não tem arvore,então pensando em meu rio que deixei pra conhecer o mar eu chorei,com os olhos fitando um azul eu chorei e minhas lagrimas se misturaram com a agua salgada levando minha dor,minha saudade ,virei as costas e  disse:

_Eu não gosto de ti porque não tivemos nenhum momento de alegria juntos,adeus.

Quando tinha dado alguns passos ouvi sua voz acima do barulho das ondas:

_Você não precisa me amar,só lembre-se que todos os rios desembocam no mar,é inevitavel.

sábado, 21 de agosto de 2010

O Pintor

Seu nome é Bira, é um grande pintor; de parede, e nem é tão bom assim, diria que é um pintor meia- boca um quebra-galho, trabalha na mesma empresa que eu, passa o dia pintando e quando não tem o que pintar fica passeando de tobata pra baixo e pra cima.


Um dia a mãe do dono da firma se mudou e pediu que ele fosse pintar a nova casa, acontece que neste mesmo dia a Clarinês, nossa querida cozinheira, fez uma rabada acompanhada de batata-doce que saía faísca de tão boa, a rabada da Clarinês tem fama internacional de apetitosa que é ,quem come não esquece. O Bira também tem fama internacional,só que de morto de fome,comeu uma vez e pediu pra repetir,Clarinha sempre gentil e bem humorada serviu ,só sei que foram quatro pratos.A tarde foi fazer o serviço na casa da patroa,ela o deixou na sua residencia e foi pro trabalho, e ele pintou ,pintou,pintou até que sentiu um leve suor frio brotando no rosto acompanhado de um espasmo na barriga,e se contorceu,isso já era la pelas cinco da tarde,as cólicas aumentaram,já tremia,não dava mais pra agüentar,precisava fazer uma sessão de descarrego urgente e o banheiro mais próximo era o dela,e foi neste mesmo que se acomodou e fez um parto sim um parto porque aquilo não era natural,tinha que ser coisa do capeta de tão grande.

Um suspiro  de alívio saiu de sua boca, foi quando ouviu o barulho inconfundível do carro da dona da casa, mais que depressa puxou a descarga, e nada, não desceu, ela desceu saiu carro, já estava no portão, puxou novamente  o cordãozinho e nada, não desceu, já se ouvia os passos no pátio, pra sua salvação tinha uma balde no banheiro,encheu,despejou, aquilo fez que foi e voltou, totalmente em pânico a ouviu limpando os pés no carpete escrito bem-vindo na porta de entrada, então não tinha jeito, aliás, só tinha um jeito.

Sem pestanejar agarrou o produto que boiava no vaso como se estivesse debochando de sua cara, pegou com as mãos, esmagou e devolveu pro vaso ,puxou a descarga e finalmente desceu,passou uma água nas mãos male e male e foi pra onde estava pintando, as mãos ainda cagadas, a patroa entrou:

_Boa tarde, Bira.

E estendeu as mãos pra cumprimentá-lo.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Meu amigo Pedro

Geralmente as pessoas usam máscaras para se defenderem ou evitar que invadam seus espaços,ao caminhar na rua observe as expressões dos rostos,sizudos,caras amarradas,prontas para briga.Não se aproxime,é o cartaz escrito nos olhos,mas existem as excessões,é um tipo incomum,que denota felicidade,alegria de viver,assim é meu amigo Pedro,ou Pedrão com seus 170kg,pessoa positiva quando encontra alguém ja vai gritando,sim gritando porque ele fala muito alto:


_Ô amigo véio!

Todos são amigos antigos até mesmo os novos,não conheço ninguém que não goste dele,mas vou contar alguns fatos acontecidos que viraram folclore contado e recontado no frigorifico.

Recém saído do quartel ,e disposto a levar uma vida independente,saiu do Passo da Areia e veio pra cidade trabalhar no 3c,como grande parte da população desta localidade faria mais tarde,em início de carreira e meio mal dos pilas arrumou uma namorada de igual peso,era um casal peso pesado mesmo,acontece que tinha, pra se locomover, uma yamarra setentinha daquelas bem pequenas,creio que não existe mais,dava gosto de se ver o par subir na motinha,a motocicleta quase encostava no chão mas ia valente, neste dia fatídigo ele vinha acelerando bastante pra pegar a sinaleira ainda aberta, faltando poucos metros o sinal fechou e sem alternativa chamou no freio,de ponta a ponta da Andrade Neves se ouviu o CRÁSSSSSSSS, a moto se partiu no meio,Pedrão caiu prá frente e a namorada rolou prá trás,os carros buzinavam,a brigada veio e só se viu meu amigo arrastando a metade da setentinha desconsolado e a amada levando a outra parte furiosa.Acabou o romance ali mesmo.

Algum tempo depois, influenciado por "amigos",resolveu se canditar a rei momo,no dia do teste já beliscado com alguns uísques passou na parte teórica e para sua surpresa foi levado junto com os outros candidatos ao palco do guerinão , aberta as cortinas se viu de cara com um grande público,um samba ressoou nos altos falantes e mandaram sambar , mais que depressa deu umas reboladas tal qual uma galinha despescoçada,rodou na prova,até hoje guarda grande mágoa de tamanha injustiça!

Na firma faltou um caminhoneiro e precisavam fazer uma entrega urgente em Porto Alegre,seu Carlos deu esta incubência ao Pedrão e lá foi,chegando na ponte de entrada se perdeu , sem saber o que fazer deu ré, um caus,todos iam prá frente menos ele que fazia o sentido contrário,nunca mais quis saber de fazer entrega.

Dona Denize o convenceu num Natal a se vestir de Papai Noel,nosso amigo se parlamentou todo,mas a criançada o reconheceu e gritavam:

_È tu gaiteiro,babaloo!!!!

Se enfezou e correu a Andrade Neves atrás delas com uma vara de marmelo.

Tem mais histórias dele,um dia eu conto,mas o mais importante é que proporcional aos seus 170kg é seu coração,amigo,generoso,alegre e sempre otimista.

Edson Novais

edsonovaes@hotmail.com

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Frio

Este inverno esta fazendo muito frio,hoje quando ia pro serviço vi num campo tres quero-queros com as patinhas trancadas no gelo,acontece que eles foram beber agua numa poça e se distrairam e foi esfriando,esfriando e congelou a poça ficando eles presos,pobrezinhos batiam as azinhas e gritavam os gritos dos quero-queros desesperados,mas não se preocupem porque veio um sol forte la pelas dez da manha,deve ter derretido o gelo,eu acho.

A fera da locadora

A fama dela me chegou através de um amigo,um dia ele me contou que levou uma mijada de uma senhora dona de uma locadora porque perguntou quais documentos precisava para fazer um cadastro,fiquei pensando como podia uma dona de estabelecimento tratar mal os clientes,a partir daí várias histórias foram me chegando e minha curiosidade aumentando,sem dúvida que eu precisava conhece-lá urgentemente e fui.
Sua mesa fica no fim dum corredor,estava de cabeça baixa olhando seu caderno que fazia o papel de um
computador,um caus, reinava ali,dvds,papéis,cartazes e soberana estava ela,um coque puxava seu cabelo pra trás,miúda,magra,parei na sua frente , lentamente levantou a cabeça,estreitou os olhos e lascou:
_QUE TU QUER?
_Minha espinha gelou,inconscientemente me encolhi e respondi baixinho:_o que é preciso pra fazer uma ficha?
_NÃO TA VENDO QUE ESTA ESCRITO ALI NA FRENTE?
Agradeci e sai rápido,um suor de medo escorria pelo rosto,era verdade mesmo a mulher era um fera
No outro dia voltei munido dos documentos,enquanto aguardava um rapaz chegou e inventou de perguntar se determinado filme era bom,pra que que foi,estreitou os olhos e mandou:
COMO VOU VOU SABER?LÊ A SINOPSE ,COMO VOU OLHAR TUDO QUE É FILME?
Eu estava fascinado,passei a olhar lentamente os filmes com um olho só,o outro estava nela,todos que chegavam levavam uma bronca,todos mesmo,ela me chama de senhor num tom de escárnio
_SENHOR,OLHA O DVD,ESTA SEM NENHUM ARRANHÃO,CERTO?
_certo,senhora
Todo dia eu vou lá, e juro que sempre tem cliente,chegamos de cabeça baixa esperando nossa bronca,ninguém retruca,imagina!
O acervo é tudo misturado,drama,comédia,terror,menos os pornôs,bem escondido nos fundos da loja,foi então que me ocorreu qual seria sua reação se eu escolhesse um filme pornô,bem devagarzinho me dirigi pra ala proibida ,entrei,a luz acendeu,ela tinha visto,escolhi um ao acaso,o nome era kid bengala ,parei e mostrei a capa,ela olhou-me bem fundo,estreitou os olhos,minhas pernas tremeram,pegou um papel e colocou na frente da capa,sempre me olhando,me entregou,um esgar rasgou sua boca,ela estava com um desprezo estampado ,eu virei as costas e nunca mais fui na ala proibida.
Sim eu continuo indo lá e talvez tu não compreenda porque,eu digo,porque ela é autentica,estamos acostumados com mentira,com mascaras,chegamos numa loja e lá vem uma vendedora com um sorriso falso perguntando como estamos,claro que ela não esta nem ai pra como estamos, quer vender e pronto,com suas frases pré fabricadas,seus sorrisos plastificados tudo é tão chato,tanta mentira que enche o saco,juro que da vontade de dizer quando elas vem sorrindo:
_Boa tarde senhor,tudo bem?
_Vai tomar no cú!
Da vontade de dizer,mas não digo,por isso eu prefiro a fera,autêntica


terça-feira, 13 de julho de 2010

D.Bolinha

Evidentimente não preciso dizer porque o apelido dela era este,nossa,era gordinha,bem gordinha,muito gordinha,uma bolinha.Morava numa casa de madeira desbeiçada pro lado,quase caindo,viúva,três filhos,não tinha grana,aliás como todos nós,naquela época éramos pobres,bem pobrinhos mesmo,a situação era foda mesmo,quem tinha casa de material,tijolo e rebocada era rico,casa de madeira desbeiçada, pobre.Era um sonho longíquo ter banheiro com vaso,tínhamos patente ou casinha,feita nos fundos de casa,uns tinham patente xique,com tampo de vaso sanitário,outros com um buraco no meio,na parede um prego com jornal picado,mas vou te dizer todos os cús era cultos,quando chovia a água da patente subia e junto com ela as larvas de varejeira,quando o vivente apertado ia fazer o serviço ao cair na água,o produto interno bruto,fazia:


_Thibum!!!!

E respingava a bunda com água,mijo e claro com larvas,ta com nojinho?Fresco.

A é,deixa eu voltar a D.Bolinha,tu fica me distraindo,pois a casinha dela tava feia,mais feia que briga de cego,numa noite ela estava dormindo tranquilamente quando um carro desgovernado bateu na casa dela e destruiu tudo,bha,deu policia,bombeiro,ambulância e claro processo,pobre adora duas coisas,processo e ir ao médico consultar,se ele da um exame é o paraíso:

_Hoje fui no dotor e ele mandou eu bater uma chapa!

A tristeza vem quando a chapa dá tudo bom,é uma decepção.

Pois,D.Bolinha ganhou uma casa nova,de madeira,e viveu muitos anos vendo ricos,que passavam na rua com o braço pra fora da janela do carro,com suas roupas bonitas,casas de material,peitos empinados,nariz empinados,passarem agora dentro de seus caixões rumo ao cemitério que ficava no fim da sua rua ,chamada de Bom Fim.Alias,vai tomar no cú quem botou este nome na rua toda esburacada,terra vermelha e no fim uma merda dum cemitério,filho da puta.

Pois passaram os anos e a casa desbeiçou novamente,agora não tinha batida de carro,foi quando a prefeitura precisou alargar,calçar a avenida Bom-Fim e deu uma casa pra ela,finalmente de material,subia de classe esta família,a casa ficou bonita,tudo novo,num bairro longe,quando se mudou pra casa estalando de nova até com banheiro D.Bolinha morreu,sim morreu,mortinha e voltou pra Bom_fim bem no Fim,fatos da vida.Desculpe os palavrões,se não gostou vai .......

terça-feira, 29 de junho de 2010

Uma capivara em frente a Loja Colombo





Tinha tudo para ser um dia normal, o sol como sempre, nasceu para todos, os trabalhadores já acordavam, numa sinfonia de descargas, escovações, libações, enfim, tudo igual. A rua Andrade Neves também espreguiçava-se e preparava-se para receber seus milhões de carros,pedestres,bondes,empresas de ônibus municipal,estadual,nacional,internacional ,cachorros sarnentos e famintos,carroças puxadas e conduzidas por burros,bêbados,vagabundos,moças tristes e alegres,moços e moçoilos,todos numa pressa adoidada como se fossem tirar o pai da forca e em alguns casos para levá-lo.

Eu ia calmamente com meu ipod a todo volume chegando a balançar minhas orelhas, que alias, não são pequenas, não era bem um ipod, mas um radinho comprado no 1,99,naquele momento escutava uma musica pra La de moderna techno-pop chamada Severina Xique-Xique,com o astro das multidões Genival Lacerda.

Da esquina percebi uma movimentação estranha,todos que chegavam na vitrina da Colombo atravessavam a rua gritando,senhoras idosas que se arrastavam corriam mais que Robsom Caetano,mulheres gritavam mais que sirene de ambulância conduzindo enfartado,homens machos caiam no chão e choravam pedindo socorro,passou por mim um jovem emo,homo e demo,com seu cabelo pranchado esvoaçando,até meu amigo Diovane praticamente um guri,com sua calça esquiner,bem apertadinha,aparecendo a barra da cueca de marca(saquinho de cebola)aparecendo,com sua camisa mais apertada que véia que comeu feijoada a meia noite.

Eu fiquei muito curioso, o que não é de minha personalidade e fui contra a correnteza de gente, aproximando-me da vitrina da Colombo e bem no centro eu avistei uma capivara enorme, gorda, com um descomunal rabo balançando, a pelagem amarela com toques azulados, escorada nas patas traseiras, as dianteiras no vidro olhando calmamente alheia a balburdia que causava. Então encostou duas viaturas da brigada mais cinco caminhões de bombeiros,os soldados vinham com laços,redes,dardos tranqüilizantes,o silencio tomou conta da avenida mundialmente famosa,inclusive o cavalo de D.Pedro cagou nela,o que nos enche de orgulho,não se ouvia um pio,dava pra se cortar a tensão com uma faca de serrinha,então se ouviu um grito agudo:

_Matem este biço, nozento!!!!!

Todas as cabeças se viraram, era um moçoilo com reflexo e luzes nos cabelos, com um piercing nas ventas, fofinho. Neste momento aproveitando a distração a capivara saiu numa disparada,correndo a mil por hora,quando nos demos conta só vimos a ponta do rabo na esquina e nunca mais vimos o roedor.

Voltamos a nossa pressa, cada um pro seu canto, cada um pra suas tarefas. Este fato aconteceu realmente,eu juro,vocês tem minha palavra de honra.

Muito tempo depois fiquei sabendo o que aconteceu,um caminhão de arroz foi buscar uma carga num silo e a capivara subiu sem ninguém ver na caçamba,quando passou em frente a Colombo,viu na vitrina um tapete felpudo e confundindo com um animal de sua espécie pulou pra fora parando na vitrina.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Meu amigo Magrão

o relógio me acorda num barulho estridente,afasto o cobertor.Banho,café,com a mochila nas costas sigo pro frigorífico.Absorto,vejo as pessoas passarem por mim com cara de sono,semblantes amarrados,como se não vissem as maravilhas que o dia nos reserva,o sol,os amigos.
No portão cumprimento o vigia e ao entrar no pátio lá está ele em frente ao almoxerifado, jaleco azul,cabelos cor de prata,um free nos dedos.
_Fátima,diz um número!
_Três!
_È teu,pode levar,chegou a trava!
 Eu sorrio,abano a cabeça e desço pro meu setor,o dia começou bem.
 O nome é Jorge,mas todos o conhecem por magrão,talvez numa época ele tenha sido magro ele diz que sim mas eu tenho dúvidas.O melhor eletrecista que já conheci,eu trabalho com máquinas e pra elas funcionarem eu preciso dele,então nossos serviços são interligados,pelo menos eu preciso dele,ocasionalmente ele pedia minha ajuda,geralmente prá segurar uma escada,alcançar uma chave.Quando eu preciso dele geralmente tenho que marchar com cigarro,que criatura filona,uma rapadura,um bolo pro café,mas sempre posso contar com ele,sempre,sempre rindo,brincando e assim nesta mistura de trabalho e diversão passaram-se um,dois,cinco,dez,vinte anos.Vinte anos de amizade,de muito riso,muito trabalho,aprendi muito com ele,sobre trabalho e principalmente sobre a vida.Enfrentamos chuva,frio,calor mas sempre com muita alegria.
Um dia estávamos no pátio e ele me disse que estava com uma dor no lado do corpo eu pedi que  fosse ao médico porque já tinha tido problemas algum tempo atrás,os amigos da firma também pediram mas ele não deu importância,numa tarde ele não aguentou a dor e o levaram pro hospital ,passaram-se os dias e ele nada de melhorar,eu tinha plena convicção que voltaria a ser tudo como era.
Eu estava dentro da empresa quando nosso encarregado me disse:
_O magrão morreu .
Eu não conseguia entender o que aquelas palavras queriam dizer até que a ficha caiu ,o magrão tinha falecido,não podia ser verdade,eu estava esperando ele voltar,tava cheio de coisas pra contar.Fui no velório,meu amigo estava no esquife sem vida,mas mesmo assim eu não entendia,no cemitério eu absorvi o que significava,nunca mais o veria,nunca mais trabalharíamos juntos,nunca mais.Chorei a perda de um irmão.
Nestes vinte anos nunca fui na casa dele pra uma visita,eu achava que tudo era permanente,mas nada é permanente,tudo passa,nascemos,crescemos,envelhecemos e morremos,é natural,mas ele se foi com cinquenta anos,tinha tanto pra viver e eu ingenuamente acreditava que tudo seria por muito tempo como era.
O relógio me acorda num barulho estridente,afasto o cobertor,banho,café,com a mochila nas costas sigo pro frigorífico.Absorto,vejo as pessoas passarem por mim com cara de sono,semblantes amarrados,como se não vissem as maravilhas que o dia nos reserva,o sol,os amigos.No portão cumprimento o vigia e ao entrar no pátio lá está ele em frente ao almoxerifado, jaleco azul,cabelos cor de prata,um free nos dedos,eu sorrio e ao olhar mais atentamente não tem ninguém,ninguém me espera,nenhum sorriso,abaixo a cabeça e sigo pro meu setor,mais um dia começa.