sábado, 23 de julho de 2011

Nem Sempre Se Vê Lágrimas No Escuro

Nem Sempre Se Vê Lágrimas No Escuro

O menino se agacha no chão, pega uma pedra redonda , coloca no couro amarrado na forquilha,estica a borracha,fecha um olho ,o outro mira no alvo,atira.

Primeiro foi o som de ossos quebrados, depois a surpresa, a dor , muita dor.A queda durou alguns segundos mas para ela foi um tempo enorme.
Os olhos fixam o céu , vê um pássaro preto cortando o ar.
Escuridão.


Acabou, finalmente acabou.



João estava no alto de um galho quando a viu voar , linda,tão linda que emudeceu,amor a primeira vista!


Arrastou as asas pra perto dela , puxou um assunto sobre o lugar que tinha melhores minhocas, ela riu com o tema, onde se viu isso?Falar de minhocas numa hora dessas?Deu um desconto porque era visível que estava nervoso, voaram juntos e marcaram encontro para o mesmo lugar.


Assim foi a semana inteira , perceberam que estavam apaixonados,se completavam, combinavam.
Se beijaram.
João de Barro, pediu-a em namoro, ela estava radiante, apaixonada,faziam planos,amanhã ele iria conhecer seus pais,queriam juntar as penas o mais breve possível.


Quando amanheceu o dia, ele estava nervoso, mas foi, bateu as asinhas na porta da casa dela,pediu licença e entrou,olhou o sogro,o velho tava com a cara amarrada avaliando-o de cima a baixo,mas por dentro o sogro velho ria, lembrando de quando fora sua vez.
Joãozinho de Barro estufou o peitinho e lascou valentemente:
_Sr. Joaozão,vim aqui pedir a asinha da sua filha em casamento.
Ele pensou,pensou, disse:
_Ela não é pro teu bico!
Joãzinho empalideceu.
_Tô brincando!Já estava sabendo do namoro de vocês, tirei informações a teu respeito e dou minha permissão!
Que alegria!!!!!!


O novo casal começou imediatamente a construir seu ninho, sua casa ,nos primeiros raios do dia começam a carregar barro,porçãozinha por porçãozinha,o local era no alto da torre de energia elétrica do frigorifico 3C,dali se podia ver a praia dos ingazeiros,de outro ângulo o pátio da firma,de onde avistavam os trabalhadores,uns de branco outros de azul.


Dia após dia a construção ia ganhando forma, ao cabo de duas semanas a casinha estava pronta,ficou simplesmente a mais linda já vista,fizeram o ninho com galhinhos secos , juntaram as penas !
A vida era maravilhosa, perfeita!
Buscavam comida juntos,passeavam,visitam os amigos, mas acima de tudo riam muito, adoravam a companhia um do outro,era amor verdadeiro.

Como nunca se viu!

Aquela manhã estava seguindo sua rotina, tomaram banho de areia ao sol, felizes, enquanto isso um pássaro preto os observava com olhos semi-cerrados,aproveitando que estavam fora ,foi pra torre, deitou no ninho e depositou um ovo , fugiu. Era uma anú.


Joana de Barro pipilou pro amado que voltaria mais cedo pois tinha que faxinar.
Entrando no quarto levou um choque ao ver o ovo , o que faria meu Deus!
Caminhava pra lá e pra cá sem achar uma solução, Joãozinho chegou e se assustou com seu estado, olhou no ninho ,deu um pulo sorrindo,abriu as asas, a abraçou forte, seria papai!!!!!!!
_Porque tu me escondeu isso, que felicidade meu amor!
Ela perdeu a coragem de contar a verdade, deitou no ninho e começou a chocar , não podia decepcioná-lo,não podia.
Cuidou como se fosse dela, já tinha amor no filhote que viria, após algum tempo ele nasceu,todo pretinho.
João entrou pra ver seu filho, mas não era dele,gritou,bateu os pezinhos,deu duas bicadas no rosto dela e foi embora.


_Espera ,deixa eu explicar!
_Traidora!
Bateu asas e partiu,Joaninha chorou,lágrimas doídas,encostou a cabeça na parede e chorou muito.
Ouviu um piado era seu filho reclamando comida,não tinha tempo pra se lamentar,foi pegar uma minhoca, trouxe , colocou no biquinho do filhote, assim seria sua rotina dali em diante,alimentar a prole.
Pegou sol,chuva,vento ,todos os amigos viraram a cara pra ela,ninguém lhe dirigia a palavra,de cabeça baixa pegava comida e ia pra casa.
_Cadê teu negão , vagaba?


O filho estava grande, já era hora de aprender a voar,o pegava pacientemente e saia pro pátio passando-lhe a maneira correta do melhor vôo,era engraçado de se ver, ela bem pequena e o filhote duas vezes maior.
Agora pouco via o filho ele aprendeu a voar e por vezes não retornava pro ninho,brava ela quis saber o que ele estava fazendo:
_Mãe,eu vou embora,não fica bem os outros me verem com a senhora,todos riem de mim , estou com vergonha!


Aquilo doeu,suspendeu o fôlego ,mas disfarçou, sorriu e abençoou sua partida.
Estava sozinha,uma tristeza sem tamanho no peito,um buraco sem fundo na alma,tudo foi em vão,onde ela tinha errado?
O que faria de sua vida?Seus pais viraram o rosto pra ela,amigos não tinha!
Levantou vôo,olhou a paisagem de cima,sentiu o vento,olhou as árvores,tudo tão lindo,sabia o que faria já tinha a resposta:Levantar a cabeça recomeçar,ela seria feliz,tinha certeza,sempre há tempo de começar de novo e procurar a felicidade,era isso que importava.

O menino se agacha no chão, pega uma pedra redonda ,coloca no couro amarrado na forquilha,estica a borracha,fecha um olho ,o outro mira no alvo,atira.


Primeiro foi o som de ossos quebrados, depois a surpresa,a dor ,muita dor.A queda durou alguns segundos mas para ela foi um tempo enorme.


Os olhos fixam o céu , vê um pássaro preto cortando o ar.
Escuridão.
Acabou,finalmente acabou.



Edson Novais,Rio Pardo,Rs
P.s:É impressionante o que se vê de pessoas que se dizem adultos com passarinhos presos em cativeiros,a beleza não se prende,os pássaros nao cantam em gaiolas,eles choram.

Um comentário:

Obrigado pelo seu comentario,é muito importante para mim,me faz crescer,grande abraço.