quinta-feira, 7 de julho de 2011

A Mulher de Branco

A Mulher de Branco

Estava eu bem belo e faceiro,quero dizer, faceiro porque belo só noutra vida,numa roda de amigos,desculpe, tenho que me corrigir novamente,em vez de amigos,conhecidos,amigo é uma palavra que respeito demais,é sagrado,amigo se conta na palma da mão,acho engraçado quando alguém diz meu amigo,amizade vem com o tempo,são pessoas que choraram contigo,riram,comeram em tua casa quando era churrasco e quando era arroz com lingüiça,quando tinha coca- cola e quando tinha água, e voltaram.
Amigo.


Num momento inspirado, o poeta disse que amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito,noutro momento o pequeno príncipe nos ensina que quando temos um amigo e o amamos ,se ele vem as três da tarde as duas já começamos a ficarmos ansiosos esperando sua chegada,amigo é isso, é

amor,amor de Deus por nós,amigo é amparo,amigo é riso,felicidade,não tenho muitos ,sempre me foi difícil conquistar as pessoas,num primeiro momento não gostam de mim, mas as que resolveram me conhecer ficaram pra vida toda.Tenho um amigo que amo, se chama Milton,não nos falamos,nem telefonamos um pro outro,mas sabemos que estamos aí pro que der e vier.


Era o enterro de papai, momento de dor,a família toda junta ,o caixão ia na frente e nós atrás, cada um rememorando tudo o que aquele homem tinha feito por nós,a galinhada,o arroz com salame,o riso pra dentro,o beijo de boa noite,a mão na barba,o cascudo na cabeça,o vinho no congelador,o choro na frente da televisão,o radio sintonizado na radio gaucha,o jogo do inter....
Não chorei,ele descansou de tanto sofrimento,tanta dor que não merecia.
Após fechada a sepultura,acendi um cigarro , fui pra frente do cemitério esperar meus irmãos,uma senhora me abraçou e quando levantei os olhos ele estava de pé me olhando, Milton,fiquei olhando-o por um longo tempo,as lagrimas lutando pra cair,um soluço preso na garganta,me pegou pelo braço , colocou-me no carro e fomos dar uma volta na perimetral,nenhuma palavra,em frente de minha casa me deu um abraço e foi embora,não precisava dizer nada,a presença dele disse muito mais.
Outra cena que minha mente registrou,quando voltei de minha internação,estava horrível,um cabelo enorme,barba por fazer,magro,um aspecto doentio,sem falar nada coerente,caminhando tropegamente,Diou,agarrou meu braço,sentou-me numa cadeira na sala de minha Irma ,cortou meu cabelo,fez minha barba,deitei e dormi.Acordei pra vida.
Ah, me desculpe!


Não era nada disso que queria contar pra vocês,agora to eu aqui chorando como um bobo!
Vou dar uma pausa e quando voltar vou contar o que realmente quero.OK?



Estava eu sentado numa roda de conhecidos cada um contava uma historia de terror e eu La escutando,sem nenhuma sombra de medo,nasci assim ,sem medo de nada.Mas tinha que voltar pra casa e o trajeto era longo,eu tava assim com um tremor nas pernas mas não sabia o que era, provavelmente era frio!Sei que não entrava um agulha!


A cidade adormecia,uma neblina pairava nas ruas,quando passava por uma particularmente silenciosa ,só se ouvia meus passos, algo saltou nas minhas pernas e sem querer dei um grito!
_Ai meu Deus!!!!!!!
Era um gato filho da puta!!!!!
Não pense que senti medo!


Senti algo tipo um temorzinho de merda,muito bem, segui em frente com o peito erguido destemido como todos os Novais,numa clareira caminhava bem belo quando ouvi um som demoníaco:
_UUUHHHH!!!!!
Me caguei todo,um tremor sacudiu meu corpo,não consegui articular uma palavra,meu coração parecia um tambor da escola de samba da Zélia,olhei e lá estava,num galho ,uma coruja com seus zoião,puta,desgraçada!!!
Claro que minhas reações ,tenho certeza , foram por causa do frio.
Segui valentemente,heroicamente, em direção a minha casinha,diminuí os passos,agora estava em frente de um necrotério,fiz um sinal da cruz muito respeitoso,eu sou respeitoso,pessoas estavam na porta,velando,óbvio,dei

uma resveguiada pra dentro,e vi o mortinho lá deitado,amarelo,numa boa,segui caminho e dobrando a esquina ouvi passos atrás de mim minha nuca arrepiou,virei o pescoço, eu a vi!!!
Um vestido alvo que nem copo de leite,um negócio tapando os cabelos,também branco,os sapatos branquinhos!!!!
Era a mulher de branco!!!


Acelerei,ela também,meu peito ia explodir,tinha certeza,rezei um pai nosso,me mijei todo.
Ela ia me pegar,a noite fria,nem um diabo duma pessoa passava,nenhum carro,nada,não queria morrer!
Tomei uma decisão,fugir não dava,melhor era enfrentar,eu era um Novais e um Novais nunca foge do perigo,parei me voltei, e na noite fria de lua cheia gritei com forças que tirei da medula,do cócix:
-Pela honra de Greiscon!!!!!!
A fantasma me olhou sem entender,eu tinha errado,novamente gritei na noite fria de lua cheia:
-Pela honra dos Novais!!!!!
Avancei pra cima dela,agarrei-a pela cintura tirei o manto da cabeça e disse:
-Puta desgraçada tu não vai me levar,alma penada ,volta pra luz!
Ouvi um grito medonho:
_Socorroooooooo!!!!!!!!!???!!!!!
A diaba branca passou por mim numa correria e entrou no hospital que não tava longe,então a ficha caiu.
Era uma freira que voltava do velório para o hospital dos Passos,olhei

para a porta ,vinha o vigia e mais dois enfermeiros correndo,não pensei duas vezes e corri como se tivesse asas nos pés,corri,corri,corri e cheguei em casa.
Tomei um banho ,troquei as cuecas e decidi: Nunca mais iria participar de roda de historia de terror.




P.S:No outro dia o Jornal de Rio Pardo noticiava o fato de um tarado ter tentado estuprar uma freira,nunca foi achado,o problema é que tenho de fazer a vacina da gripe e é no hospital.
O que faço?

Edson Novais,Rio Pardo,Rs

Um comentário:

Obrigado pelo seu comentario,é muito importante para mim,me faz crescer,grande abraço.