quarta-feira, 18 de maio de 2011

A Comadre de Ogum

A Comadre de Ogum

Não sei de onde vem esta carga que tenho em minha vida de atrair confusão,entrar em fria,tantas pessoas recebem dons e eu tenho o dom de receber de graça problemas,geralmente alheios,estou na minha e de repentemente bum ,me meto em gelada.
Ela é pequena,nas minhas contas tem duzentos anos,mas o cabelo pretinho que chega doer,talvez por ser mestiça com bugra,chegou de mansinho e perguntou:
_Tu virá na procissão de Ogum?Será sábado á noite!
_Talvez eu venha,falei tirando o corpo fora.
Fui pra casa e a semana passou,lá por sexta o telefone toca , é a filha da bugra,
_Edson,a mãe ta contando contigo pra levá-la na procissão,não pode caminhar e tu ficou de ir de carro com ela.
Eu fiquei???????? Pensei desolado, tinha caído numa armadilha e não me toquei,mas tudo bem se fiquei,agora que agüentasse.
Fui eu e meu cunhado,aliás filho dela,lavei meu escortizinho,encerei,polí,diamantei, perolizei tudo pra fazer bonito pro Jorge,ou Ogum,chegando la o batuque já tava comendo,em frente a terreira as pessoas cantavam vestidas de branco ,vermelho,a musica dos atabaques,as cores,as luzes tudo tão lindo,os cantos que pareciam lamentos de um povo que sofria a injustiça da escravidão,a dor de ser tirado de seu chão pra virar um animal de carga,tudo isto o canto lembrava de um passado não muito distante,aliás só mudou a forma de escravidão.
Pois após esta reflexão vou continuar minha história, tava na hora de começar a caminhada,Ogum saiu de dentro da casa num andor de madeira,carregados por pais –de- santo todos ornados de branco,uma chuva de fogos de artifício espocaram no céu,a dona da casa foi na frente vestida de vermelho e era impressionante a dignidade,a altivez desta senhora comandando a procissão.
Entrei no carro e imediatamente se aboletaram cinco sobrinhas da caronante,três filhos,dois netos um cachorro e um gato,a musica alta dos tambores vindo de cima da caminhonete davam um emoção a mais,foi quando ouvi um berro:
_Aiê, Ê,Ê!?!?
Olhei pra trás, ela tava incorporada,desci ,tinha prometido levá-la mas sem incorporação!Passei a chave pro filho que repassou pro outro filho que por sua vez trespassou pro namorado da neta, Deus!!
Fui caminhando com duas filhas dela,bem mais adiante me dei conta que o automóvel não vinha vindo,meu cunhado voltou e não voltou mais pra caminhada,mas continuei hipnotizado pela beleza de tudo,quer dizer menos da rua que era uma massa de barro com pó de carvão,pedras pontiagudas,mas caminhei,caminhei,caminhei,caminhei mais e mais e mais e mais,ao total três mil quatrocentos e cinco quilômetros,nesta altura meu humor e meu ar tinham evaporado,pedi que uma das gurias passasse um braço em cima de mim,eu tava cansado,quando levantou o sovaco tive certeza que tinha uma oferenda ali e pior ,tinha apodrecido!
Continuamos, foi quando ouvi algo mais que os tambores,um som vindo da outra filha ,perguntei o que era e me disse:
_São as emanações de energia!
Pra mim tem outro nome, mas tudo bem seguimos adiante, chegamos em cima de um ponte de madeira que ao peso de tanta gente estalou e se mexeu,um garoto,disse que a ponte iria cair,que raiva do diabinho!
Chegamos próximo do fim, e eu vi.
Vi estacionado em frente da casa,meu carrinho todo preto de carvão,desbeiçado,pneu furado,sem nenhuma luz funcionado,meu ombro caiu,em frente estava a senhora,me ofereceu água,água,!!!!
Eu querendo encher o bucho porque dizem que toda festa tem cabrito,farofa,doces,canjica,pipoca e me oferecem água?
Não disse nada,entrei no escort,e fui embora.
Hoje tocou meu tefone,era a comadre de Ogum,desliguei,tirei o chip,joguei fora,numero novo,vida nova.
Salve Jorge!

Edson Novais, Rio Pardo.

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