quinta-feira, 30 de junho de 2011

Santo Expedito, Rogai Por Nós!


Nosso relacionamento começou por acaso, ou o acaso não foi acaso, sei lá, mas fato é que, aquele dia fui ao centro, como sempre sem pressa, a pressa não nos deixa ver nada e existe tanta coisa interessante acontecendo que não percebemos, não admito passar pela vida, eu tenho que viver a vida, beber da fonte, sentir o gosto, a essência de tudo, sou um observador,gosto de ver as expressões das pessoas quando caminham,colho aqui e ali pedaços dos diálogos soltos no ar, tudo é tão maravilhoso, os pássaros, o vento, a chuva, os dramas, a felicidade, os gestos de solidariedade, todo ser humano tem sua história pessoal, suas tristezas, suas alegrias, este mundo é bom demais!


Mas eu estava ,não me lembro em que loja, provavelmente de 1, 99, sou viciado em bobagens, sei que não preciso mais de chave de fendas, chave teste, mas quando vejo to la comprando,tava no balcão e vi um bolinho de santinhos,aquelas orações que largam nas lojas pros idiotas pegarem,eu sou um e peguei,primeiro a gente da uma olhada com cara de desinteresse,depois da uma lida e finalmente revesgueia os olhos pros lados e pum,coloca no bolso,ou bolsa,pobre adora pegar santinho,propaganda,revista de ofertas de lojas,de supermercado,se é de graça,se leva,nem que sirva só pra encher de lixo a casa.


Já em casa, olhei mais atentamente, era uma oração ao Santo Expedito, prá falar a verdade achei meio gay aquele santo,de mini saia,capa vermelha,sandalha melissinha,um rostinho de moça pura,gostei dele,coloquei em cima duma cômoda que era de vovó e fui viver a vida, quando entrava no quarto tava ele lá me olhando com carinha de pidão:
_Oi , eu disse,tudo bem?
_Ola!Juro que ouvi aqui na minha cabeça!


E engrenamos um grande papo, sabe que até que o santinho era bem legal,pra alegrá-lo comecei a colocar uma flor num vasinho,acendia uma velinha e dê-le papo,me dava conselhos,ríamos do meu dia- dia ou muito raramente dava uma choradinha,porque não devemos e nem podemos ficarmos muito tempo tristes,a tristeza murcha,suga a vida como um vampiro faminto.



Nunca pedi dinheiro pra ele,a maneira mais eficiente de perder uma amizade é pedir dinheiro,não se meche em bolso alheio,a grana vale mais que tudo,mais que um abraço,um aperto de mão,um sorriso,uma lagrima compartilhada,o dinheiro compra tudo ,até amigos.
Não pense que sou bobo achando que se vive sem dinheiro,mas viver só pra ele é perder tempo,tempo que não temos, a vida é curta demais.
Sabia que ele era uma espécie de pronto socorro dos endividados, a fama era grande, mas eu queria só um amigo, rezava sua oração todos os dias até que pediu pra parar porque não agüentava mais aquela ladainha chata, preferia nossas conversas!

A água corria no rio, amigos que eu jurava serem seres perfeitos não eram nem amigos nem perfeitos,pessoas foram e vieram,nasceram e morreram, mas nossa amizade era firme como uma rocha, não pedia nada e ele, por sua vez, não me cobrava nada, contava tudo , ele ouvia,ninguém quer ouvir,quando tu vai contar algo pra alguém note o rosto dela,faz de tudo pra mostrar interesse,mas quer que acabemos logo pra falar de si,ninguém mais quer ouvir, só falar!
Passamos por centenas de gente, amigos,vizinhos,estranhos, e dizemos:
_Bom dia, tudo bem?
_Bom dia, tudo bem e contigo?
_Tudo bem!


E seguimos nosso caminho, não estamos nem aí pra como a pessoa esta e nem ela da a mínima pra como estamos,formigas!Somos formigas apressadas que encostam a cara uma na outra e segue caminho, apressada.
Quando uma pessoa me abraça apertado , põe a mão no meu rosto, me olha nos olhos e pergunta com voz de coração como estou ,meus olhos se enchem de lágrimas e tenho que lutar pra que elas não caiam,porque estou tão acostumado com sorrisos pré- fabricados,perguntas de cortesia,ares de superioridade que escondem crianças disfarçadas de adultos ,com fome de amor.


Comprei uma imagem de Santo Expedito, linda,pra ter o que olhar,só damos importância pra aquilo que vemos.
Começamos a nos chamar de DITO e ED, Dito me dava conselhos me ensinava a olhar, eu não sabia olhar,olhava tudo como se estivesse numa vidraça suja,tudo embaçado,comecei a perceber o que realmente tem valor e o que não tem.
Mas um dia eu estava numa chia desgraçada, tava precisando de grana urgente, devia pra um amigo e estava perdendo a amizade,pensei ,pensei e resolvi que pela primeira vez pediria prá Dito que me ajudasse.
Acendi uma vela e pedi constrangido que me socorresse, parece que vi um brilho triste em seus olhos, dormi.
Quando acordei tinha um numero em minha cabeça, fui trabalhar e sempre aquilo na minha mente, a tarde encontrei um bicheiro , fiz uma fé,tinha dez reais no bolso,mas fiquei com pena , joguei um real.Seis horas da tarde,resultado da loteria.Deu meu numero!
Mas ganhei pouquinho porque não acreditei no Dito,fiquei louco,enraivecido,entrei no meu quarto, pequei a imagem e quebrei,estava transtornado,porque ele não me deu um sinal!
Nossa amizade terminou,nunca mais conversamos,me arrependi , não era mais que ninguém,traí meu amigo por causa de dinheiro,todo o tempo de nossa amizade não aprendi nada ,na hora do vamos ver fui covarde,escravo da moeda!
Não tenho coragem de pedir perdão, não é fácil pedir desculpas!
Caminho pelas ruas observando, só,terrivelmente só.



Edson Novais, Rio Pardo,RS

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentario,é muito importante para mim,me faz crescer,grande abraço.