quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Tomates Maduros Podres

Tomates Maduros Podres.

Minha mãe me abandonou.

Foi morar em Caxias , com meus manos, que também me abandonaram,querem serem gringos, os fedorentos ,algo tem de errado com eles que abandonaram uma rica criatura que nem eu,praticamente um santo.Mas esqueceram que sou um arquivo vivo sobre o passado de minha família,e como tô meio carente

hoje ,por causa do vento gelado que castiga o sul,a falta de sol provocou na minha pessoa ,uma raiva de meus familiares que resolvi ,como vingança, por não terem ligado e dito que me amam,revelar um terrível segredo familiar.


Só três pessoas sabem deste segredo.



Mãe,me perdoa!



Nada disto precisava estar acontecendo se tu tivesse me ligado.




Me perdoa.




Vou contar:





Agora.



_Ai,espera, que falta de paciência,precisava me xingar?


Vou contar:

A Vivi quando morreu não era mais virgem!!!!!!!!!!!!!!!
Pronto,contei,você que está lendo neste momento ,não deve estar entendendo nada,vou começar do começo e chegar ao fim no final,então tu entenderá tudo.
Vamos lá:


Aquele dia foi atípico, não voltei pra casa como costume, em vez disso fui a casa de um criador de cães da raça hottweiller,na verdade já tinha estado lá algum tempo atrás e escolhido aquela que seria minha filha,agora estava indo buscá-la, já tinha sido desmamada.A vi deitada com um monte de irmãos num canil,paguei,peguei e fui pra casa,um sorriso queria se estampar no meu rostinho perfeito (sem cravos nem espinha graças ao sabão para-todos),devido a surpresa que daria em mamãe,consegui a duras penas manter minha bocarra fechada.


Em frente a casa azul,abri o portão de ferro que papai fez,desci a maçaneta da porta .Malu estava na cozinha:
_Oi filho,já chegou?

Nada falei,tirei do bolso do casaco a surpresa ,coloquei no chão,me encostei na mesa redonda de madeira de mogno(imitação de mogno) e fiquei observando o rosto da velha.

Imediatamente aquela bolinha preta de pêlos saiu farejando os quatro cantos da cozinha,cheirou as pernas de Malu,os olhos damãe brilharam,a boca abriu,pronto estava conquistada.

A pegou no colo,beijou,nisso minha sobrinha Tássia chegou do colégio:



_Ai Vó,que coisa linda,que cutcho-cutcho!

_Ai degê-degê-dê,ai dêge_dêge,dê!!!!!!!!

Perdi a filha,as duas se adonaram da cadelinha,era caminha,roupinha,xampuzinho,mamãe virou uma muié véia abobada,de tanta atenção que dava pra Buba,este era o nome de batismo da filhote.
As vacinas foram dadas,remédios para vermes, estava linda, parecia um filhote de urso,gordinha,a carinha larga,dormia no colo das duas,todos felizes,incrível como algo tão inocente pode transformar uma casa,Buba chegou e virou a rainha do lar!
Os meses passavam,a cachorrinha um dia estava anormalmente quieta,não quis comer,uma sombra caiu sobre nosso lar,ela estava doente.
Procurei no pátio suas fezes , vi sangue,imediatamente a peguei e levei-a ao Dr. Leandro,sinomose.
_Mas como ,se eu dei todas as vacinas?
_Não quer dizer,quando se é filhote o organismo esta muito desprotegido e esta doença é muito forte,ela não reagiu as vacinas.



Soro,injeção,nada parecia resolver,mamãe chorou,lágrimas de dor,passava com ela todo tempo,rezava que se curasse,Tassinha estava desesperada,Leandro tentou de tudo.


Buba morreu!


Após uma longa agonia ela morreu no colo de mamãe.
Não era o que eu queria,nunca quis causar dor a “Tia Lourdes”,mas causei, e não seria a primeira, nem a última.
A tristeza tomou conta da casa azul,se eu pudesse ter evitado,na verdade eu poderia ,se não tivesse inventado de trazer cachorro para elas,agora ambas estavam infelizes por minha culpa.



Passado algum tempo,alguém me falou que tinha uma ninhada de hotweillers pra vender,não me interessei ,errar uma vez tudo bem,persistir é burrice,mas fui, sem grande interesse.
Um fedor enorme agrediu meu nariz,um canil sujo,a cadela-mãe magrinha com muitos filhotes agarrados em suas tetas,que vontade de sentar um tapa neste dono filho -da-puta!

Não poderia ficar com todos ,mas uma magrinha,com focinho comprido e olhar ao mesmo tempo de sofrimento e doçura me chamou atenção,não,não poderia levá-la,fui embora!
No meio do caminho parei,como eu ia me olhar no espelho vendo aqueles olhinhos pretos olhando minha alma,como???????
Voltei.

Paguei e fui para casa já sabendo que ia dar merda aquela história,dei um tempo na porta da sala,respirei fundo,criei coragem e entrei:
_O que é isso?
-Mãe,ela será minha,eu vou cuidar!
-Eu não quero,não quero nem olhar,já tinha dito que nada de cachorro,mas tu não tem ouvidos,faz tudo pela tua cabeça,eu não quero!
Na verdade ela não queria sofrer,porque quem ama pode se preparar,em algum momento irá sofrer!
Arrumei uma caixinha,cá entre nós,ela era muito feia,maltratada,com pulgas, remela nos olhos,tremendo,magrinha,muito feia mesmo,feia valendo!
Não poderia colocar veneno nas pulgas,morriam elas e a cadelinha junto,então levei-a ao Leandro,uma salmoura resolveu,foi vacinada,desvermificada,lavada,secada e torcida,assim mesmo continuava feinha,tadinha!


Eu ia trabalhar,mamãe nem olhava para ela,(lembre-se , tinha medo de sofrer!)mas algo me intrigava,quando voltava tinha uma caminha arrumada ,no outro dia um potinho de água cheinho,ração,leitinho,juro por Deus, não me controlei e perguntei quem tinha colocado aquilo:
_De certo que to ficando louca,vou deixar ela com fome?
_Ahã,sei!
Tassinha muito bisca também não tinha gostado da cadela,por outro lado o filhote se apaixonou por minha sobrinha de uma maneira impressionante,Tassia era pequena,talvez por isso, e muito feia também.Identificação!!!!!!

Sei que tudo tava se repetindo,a cadela tava engordando,criando corpo,até dava pra dizer quase bela,dormia num sofá na área próximo a churrasqueira,dali nunca mais ,enquanto viveu ,iria querer saber de outro lugar.
As duas estavam abobadas novamente,a vida era tão boa!
Passado três meses adoeceu igual a Buba,tudo novamente,dor,lagrimas,minha mãe caiu de cama,de tristeza,Tassia Eduarda chorava.
Coloquei o animalzinho no colo ,levei-a ao veterinário,injeção,soro, descobri algo que não sabia, o pátio estava infectado!
Lágrimas, eu era culpado novamente,embora ninguém acredite ,nunca quis fazer minha família sofrer,todo mal que eu fiz , primeiro foi pra mim mesmo,se sofreram eu nunca desejei.
















Mas a cadelinha sobreviveu!!!!!!!!!!!!!!
Quando fiquei sabendo do pátio ,a tirei e levei pra casa de minha irmã Ruti,lá ela ficou os primeiros meses,quando voltou já estava forte ,a casa todinha foi dedetizada.
Vitória, ficou sendo chamada ,por que venceu a morte,Vivi,Vi.
E foi crescendo,crescendo,até demais,ficou enorme,um latido que era um urro,causava medo e raiva aos vizinhos, que não gostavam dela,porque diziam que era uma raça assassina,matava crianças,bobagem,nunca vi uma cadela mais amorosa.Com os de casa!
Um belo dia nosso saudoso amigo Arildo veio visitar meu cunhado,ele era muito querido por todos,abriu o portão e entrou,só vi a poeira das patas da Vivi,Arildo quando a viu estacou paralisado,a diaba colocou as patas dianteiras em seu peito e o derrubou;
_Ò!

Foi tudo que conseguiu pronunciar,tentou levantar e novamente foi jogado ao chão,chegamos e a prendemos nos fundos,após vários copos dàgua se acalmou,mas após isso não veio mais com tanta freqüência,uma pena.
Eu estava trabalhando a meia noite,como era sábado meu terno era dobrado,meia noite ao meio dia de domingo,cheguei virado num trapo,deitei no sofá da sala,como era verão fechei o portão da rua ,abri a porta,liguei a TV , dormi,Vitória deitou no chão ao meu lado,nisso uma menina chamada Joana pedia pão ,de casa em casa,chegando na nossa,abriu o portão da grade,entrou ,colocou a mão em meu ombro pra me acordar ,ouvi um grito medonho:
_Me ajude !Me acuda!

Sentei no sofá sem fôlego,não tava entendendo nada,olhei pro assoalho e La estava a menina, estirada ao chão, sangrando,prendi a cadela,peguei a guria,coloquei-a no carro ,fui para o pronto socorro.
Medicada,com pontos,remédios comprados,entreguei-a aos pais,no outro dia a busquei pra trocar curativos eu sabia que se deixasse por eles a perna da menina apodreceria,eu saía com a menina de mãos dadas, o posto era perto ,as pessoas passavam e gritavam:
_Ahã,é tua filha a milhafafa?

Eu ficava quieto,um milhão de vezes ter uma filha milhafafa do que ter eles como amigos,ninguém é mais que ninguém,alias esta menina morreria anos mais tarde,grávida sem sair da infância,faleceu porque demoraram pra fazerem o parto,morreu e foi enterrada como indigente.


Vitória aprontava as suas,não tinha um dia que os vizinhos não vinham reclamarem,mordeu a perna dum senhor,daí se escondia,parece que sabia que tinha aprontado.
Coloquei cerca,ela pulava,fiz de ferro,canil,tabuas,nada a segurava,quando começou a putiar dei vacina,assim foram passando os anos,três,cinco,oito,dez.
Sempre nos orgulhamos que nossa cadela era moça,moça pura,virgem,mas a historia não é bem assim.
Estou em casa bem contente,não percebi que o silêncio não era normal,meu afilhado Vinício,bateu na porta,me assustei com sua expressão de gravidade:
_Padrinho,colocou mão em meu obro,seja forte preciso te dizer algo!

Minhas pernas afrouxaram,alias não foram só as pernas!
_Conta Niço,to preparado!
-A Vitória ta colada com o cachorro dos milhafafa!
_Puta que pariu!!!!!!!
-Filha da puta!!!!!!!
_Como ela pode fazer isso????
_Bom Padrinho o cachorro chegou por trás ela se abaixou e.....
_Cala boca Vinicius!
-Peguei-o pelo braço e disse:
_Escuta tu vai me prometer que isso nunca sairá daqui,tu vai ter que guardar segredo,jura!!
_Eu juro!
_Levanta a mão!
Foi jurado e sacramentado e te digo que até hoje cumpriu sua palavra.


Contei pra mamãe que me disse que era problema meu,a cadela era minha,como de costume sempre que algo ruim acontecia a cadela era minha,quando tinha que pagar veterinário,comprar ração,remédios,dar banho,anti pulgas,anti vermes ,a cadela era minha,pra beijinho e carinho era das duas,safadas!
Vivi odiava que se colocasse uma coberta no rosto, puxava, mordia,Alex,meu sobrinho, sempre fazia isso,mas ela fingia que mordia, sempre o tratou com carinho e amor.
Vitoria viveu conosco por quatorze anos,certa feita descobri um nódulo em sua barriga,logo se multiplicou,era câncer!
Nada se podia fazer,multiplicamos o amor,carinho,ela iria morrer,a pelugem do rosto tava branca,tinha envelhecido,numa segunda feira deitou e não conseguia mais levantar,novamente Dr.Leandro Queiroz veio examinou:
_É o fim,tem dois caminhos,ela ficara agonizando,com dores terríveis por três dias,ou eu a levo dou uma injeção e ele dorme pra sempre,vocês escolhem.
A pegamos com todo carinho,colocamos na traseira da caminhonete,me olhou nos olhos um olhar de doçura e sofrimento,beijei sua testa e cochichei em seu ouvido:
_Obrigado,por tudo!

Mamãe chorava escorada na casa,Tassinha perdeu aquela que a amou de todo coração,sem interesse,sem pedir nada,a amou por ser quem era.
Vitoria onde quer que tu esteja eu te agradeço,tu fez parte de uma época em que fui feliz,agora escrevo nesta casa azul onde não tem mais ninguém,nem pai,nem mãe,nem Tassia,nem riso ,felicidade,nem Vitória.

Escrevo porque é a única maneira que encontrei de sobreviver ás lembranças,elas doem,eu achei um modo de não sofrer,arranco de dentro de mim tudo que vivi e divido com você que esta lendo,desta maneira elas não me pertencem mais e sim a vocês.

Quando finalmente eu arrancar a última,daí sim, terei o que mais desejo nesta vida:

Paz!

Edson Novais,Rio Pardo,RS

P.S:Menti quando disse que a Tassinha era feia,sempre foi o amor da minha vida,tão linda,e quando cresceu se transformou no meu orgulho,uma moça que cuida de sua vó,cheia de bons princípios,de amor,de honra,de luz.
Quanto as minhas lembranças não se preocupem, tenho um milhão e meio delas!

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